Poesia em cores naturais

Sobre o processo de criação.

As poesias são uma parceria da Let com o poeta Hellder Preto(@hellderpreto). Um cara incrível e que escreve com o “coração saindo pela boca”. Poesia intensa, inspirada no seu cotidiano e realidade da vida em favela. Uma voz poética gentil e que nos traz reflexões profundas. Sua rima trouxe valor cultural para contarmos as histórias das nossas coleções. Uma escrita generosa para despertar os olhares que fotalecem os saberes dos nossos antepassados combinando poesias e cores naturais.

 


Alma | Ciclo 2023
por Hellder Preto

Fui verso, fui prosa
Fui brega, fui bossa.
Reggae, Funk.
Rap, Punk.
Mas sempre alma.

Tempestade, Ventania.
Temporal, Calmaria.
Sol o dia inteiro
ou aquelas chuvas de janeiro.
Mas sempre alma

Cartola compondo O mundo é um moinho.
Ou tempo não parando pra Cazuza.
A Viola de Paulinho.
Assim falou Zaratrusta?
É sempre alma.

Alma que compõe
O vai e vem das marés
Alma que sobrepõe
Os porquês de nossas fés

Aquilo não vejo
Que me guia em plena mata
O doce gosto do beijo
As pernas desacorrentadas

Livre pra ser quem é
Fora das caixas do quem eu sou
Posso ser uma benção divina
Ou o pão que o diabo amassou.

Sou terra, fogo e ar
Prazer, luxuria e ganancia
As rochas, vulcões e mar
Inveja, rancor, vingança

Sou o bem, sou o mal
Causa e efeito
Inconsequente e racional
A inobediência e o respeito

Sou o sopro da vida e manutenção dela
O calor do fogo derretendo a vela
O fim e o inicio
Seu motivo mais propício

Movimento e paralisia
As ambuiguidades que compõe os nossos dias 
Sou paradoxal
Composição imaterial

Te ouço, te vejo e te permito sentir-me em tua palma
Olha ao redor e me contemple.

Prazer, alma.

 


Expansão da Consciência | Ciclo 2021
por Hellder Preto

Meu caderno é o contador de história
Baseado em fatos reais 
Uni versos pra contar minha trajetória 
Bem vindo ao meu mundo, galáxias espirais.

2021
Era de aquário, despertar da consciência.
Mente é santuário, corpo é resistência.
Resistir é acreditar, acreditar é ter motivos pra seguir.

A gente vê no dia a dia, a vida se esvair das mais diversas maneiras.
Ninguém se olha mais, ninguém mais se beija.
Os demais, viraram rivais.
As esquinas, trincheiras
Os toques são só digitais, frios e em telas e as redes que são sociais?
Se eu sou porque nós somos, o que seremos se não nos enxergarmos mais?

A vida é uma maratona de acelerado ritmo...
Corro incansavelmente sem perder porque nunca compito. 

E assim sigo.

Trancado a 7 chaves meu peito Pandora, 
dessa vez, prometo, o mal não aflora.
Entendo hoje que a regra do mundo é troca.
Que o tempo é rei.
Controla tudo, não se mede e nem se dobra.
Seja sincero e o que for teu, volta.

Vi tantos por aí como eu
No breu
Buscando a luz no fim do tunel
Perdidos e confusos sem saber
que a unica saída é olhar pro próprio eu
Quem vem de onde eu venho
Quem é como eu sou
É ensinado a se negligenciar desde pequeno
A não saber do seu valor

Mataram nossos heróis, nossos avós, nossos pais.
Exploraram nossas mães, abusaram das nossas irmãs, tentaram apagar as historias dos nossos ancestrais.

Pouco se sabe sobre o que veio antes de nós
Muito se sabe somente sobre a lente do algoz
Muitos dos nossos não sabiam escrever então como contar?
O projeto deles de apagamento daria certo, se não fosse Baquaqua.

Nascido rei no império Ashanti foi raptado e trazido pro Brasil pra ser explorado
Nem sob torturas se manteve calado.
Fugiu e contou sua histórias sobre as atrocidades que viveu num solo que é até hoje é dominado.

Quantos Malcolm morreram antes dos 30?
Quantos Miles se foram por melancolia?
de 23 em 23 minutos morre um novo Chucky Berry prum Elvis ser chamado de rei um dia.

Somos o maior povo preto fora de Africa
E temos a policia que mais mata preto em diaspora
Dissonancias que confundem nossos ouvidos
Mas diz muito sobre um país que com base no racismo foi construido

Pensado, trabalhado, estrutural
Feito pra nos amontar no sistema prisonal, mas tem suas falhas.
Não contaram com nossa força, não contaram com a nossa resistencia, nossa garra.

Somos plurais, atuantes e atuais
Muito mais que esteriotipos, muito mais
Já que me chamam de bandido, de ladrão.
Vim pra roubar sua atenção, te apontar a ferida que ainda estanca sangue e não! Não nos calarão!

Sabemos que as rosas da resistencia nascem do asfalto do chao duro da cidade
Tentaram silenciar Marielle e deram a ela a voz da eternidade
Francamente!
Marielle floresce nos coraçãos e nas mentes de quem sabia que uma bala não pararia um furacão.

Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.
É a força do coletivo nos olhos de Angelas, Zeferinas e Benguelas.

Fico feliz quando eu vejo um dos nossos no pódio
Fico feliz com o amor vencendo o ódio
Me faz acreditar em toda luta coletiva
Me faz sentir no peito toda a força de Madiba.

Estamos longe da paz em plenitude
Estaremos pertos se mudarmos de atitudes

Se enxergamos uns aos outros como irmão
Despertamos a consciencia pra verdadeira evolução
O eu e eu em harmonia trará eu e você em comunhão

E nas voltas do gira mundo veremos aflorar nossas virtudes
Pra que assim sim tenhamos uma vida em completude.

Fé nos próximos dias.

 


Ancestralidade Solar | Ciclo 2020
por Hellder Preto

Como Carolina, quero abrir ao mundo o meu diário, me tornar atemporal!
Meu quarto de despejo é um relicário.
Vivido, pulsante, visceral!

Quero fazer da minha arte o colorido pro cinza do momento atual.
Em cada verso criar uma nova roupagem num tingimento natural.

Por falar em tingimento natural, me pego pensando em como a cultura é milenar.

Ancestral...

Nossos antepassados nos deixaram ensinamentos que são verdadeiros legados.
Histórias, crenças e culturas que até hoje por nós é celebrado.

A capoeira, o samba, o maracatu.
O acarajé, o vatapá e o caruru.
As cores, a dança e o canto Tupi.
A natureza, a espiritualidade e a força de Raoni.

A mãe terra teceu caminhos pra me fazer resistência.
Obediente sigo aquela frase que diz que intuições são meus ancestrais soprando segredos de sobrevivência.

O Nós por Nós ecoa como um mantra que nos une e faz crer que juntos somos nós e elos fortes e resistentes como macramê.

As mãos de nossas mães costuraram um mundo de traumas pra que hoje pudéssemos sentir um fio de liberdade.
E na fumaça dos cachimbos de nossos velhos e tupis mora nossa proteção e a cura de nossas enfermidades.

Nossos corpos são expressões e fragmentos da natureza.
Reluzente como a beleza de Oxum, nossa alma guarda nossa maior riqueza.

Sermos GRIOT é necessário num mundo onde quase tudo é superficial e veloz...
Afinal, nossos ancestrais acima de tudo nos deram voz.

Zumbi, Malcom, Mariguela.
Abdias, Lucinda, Conceição.
Dandara, Angela, Assata, Mandela.
Maria Firmina, Leandro, Fatima Trinchão.

Nomes que nos dão inspiração diária, luzes que nos mostram um caminho pra não termos o mesmo final de Ismália.

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